Reflexões geométricas, como notas de Kandinsky

Nosso planeta é redondo,

mas nosso mundo é cheio de cantos.

 

O mundo que é nosso por compartilhamento,

mas singular, em última análise, por idiossincrasias.

 

A experiência estética, cognitiva e psicológica do mundo não é circular,

perfeita em todos os seu sentidos.

É muito mais algo poligonal,

copiosa de ângulos, vértices, vetores, quinas… cantos!

 

Cantos também como interpretações,

performances de muitas notas quase infinitamente rearranjadas,

formando variadíssimos sonetos.

Cantos!

 

É possível harmonizar todos os cantos?

Orquestrar todas as diferenças,

não desprezando suas legítimas particularidades,

mas compondo um arranjo único e belo?

 

Onde cada canto,

cada história se reconhece em uma única peça maior,

superior, que oferece fundação e propósito para cada canto?

 

Onde exatamente na negação da autocentralidade narcisista e idólatra,

o eu verdadeiro de sentido cósmico e eterno, pode ser conhecido, adotado e performado para a perfeição?

 

Conhecer os cantos e torna-los família não homogeneiza,

antes, constrói a forma perfeita, circular e eterna.

É preciso cuidar dos cantos.

 

Muitas vezes os cantos são espaços de despejo e apagamento,

pontos de lágrimas e penumbras.

Outras vezes são problemas arquitetônicos difíceis de decorar.

A solução em certos casos são móveis planejados.

 

Noutros paradigmas os cantos são acolhimento,

Lugar de segurança e paz.

Colo de mãe.

Onde está meu canto no mundo?

 

O canto pode ser segurança,

paredes próximas,

útero.

 

O canto pode ser meu,

Identidade,

lugar.

Minha ação criadora e transformadora no espaço-tempo.

Assinatura.

 

Sou canto.

Sou nota e geometria.

Só não sou só.

Não sou e nem posso ser fundamento para mim mesmo.

 

Porque somos vértice.

Somos quando em conjunto somos,

e em conjunto conhecendo e unidos ao Excelso e seu destino,

à homeostase da verdade.

Vida!