Neste artigo, Sam Hacking compartilha suas técnicas para começar uma nova história. Trata-se de um projeto do Palimpto insuflado pela proposta da National Centre for Writing que faz parte do pacote de recursos para escritores em início de carreira, Beginnings, possibilitado pelo Arts Council England, da National Centre for Writing. O NCW é um espaço dinâmico de discussão de literatura contemporânea no coração de Norwich, Cidade da Literatura da UNESCO.
Sam Hacking é uma escritora em início de carreira e a equipe da NCW conversou com ela sobre como ela começou sua jornada na escrita e quais conselhos ela propõe para novos escritores.
Hacking é uma escritora e artista visual interessada na voz experimental e nas relações dos personagens com a paisagem. Ela mora em Norwich e atualmente está escrevendo uma coleção de contos.
[NWC] Que conselho você daria aos novos escritores?
Faça seu PRÓPRIO trabalho e encontre sua voz. É ótimo se inspirar em outras pessoas, mas tenha confiança em seu próprio estilo. A escrita deve sempre evoluir. Faça parte da comunidade de escritores, participe de eventos de redação, use as redes sociais para conhecer oportunidades e sempre compartilhe seu trabalho com seus colegas. Ao mesmo tempo, não compartilhe seu trabalho com inúmeras pessoas, pois isso, de alguma forma, pode ser confuso devido aos muitos comentários.
[NWC] Como você começa uma nova história?
Sou pintora e extremamente inspirada pelo mundo natural, muitas das minhas histórias nascem de uma paisagem que pintei ou de lugares que visitei. Tenho tendência a esperar até que a história me encontre, em vez de tentar encontrá-la. Não escrevo todos os dias porque acho isso contra-intuitivo e, para mim, a qualidade conta muito mais do que a quantidade. Tenho tendência a ter primeiro uma imagem do mundo natural ou de um personagem na minha mente, e depois sempre ouço música para extrair as emoções que impulsionam a peça. Tenho que escrever em lugares movimentados – como cafés – e ouvir música, pois estar imerso em um ambiente excessivamente estimulado me ajuda a extrair pedaços da história de diferentes ângulos, sejam as pessoas que vejo ao meu redor, ou a emoção de uma música específica ou os detalhes do meu entorno. Procuro confiar no processo de criatividade, pois para mim não é uma coisa linear, é muito abstrato e imprevisível, o que adoro.
[NWC] Como artista visual, como você começou a escrever e por quê?
Comecei a escrever como uma forma puramente visual, interessada em criação de marcas e códigos na Slade School of Fine Art, passando a escrever mini peças para peças de arte ao vivo. Quando comecei a pintar paisagens, veio a poesia, pois escrevia sobre as paisagens que visitava antes de pintá-las. Meu primeiro curso formal de redação foi na Goldsmiths University sobre ‘Como escrever contos que ressoam’, o que me ajudou a coletar a frouxidão da minha poesia (que era muito mais focada em ritmo, padrão, som e imagens do que as palavras poderiam transmitir) e começou a transformar essa forma em narrativa, estrutura e solidez de contos de ficção. Eu diria que minha arte e minha escrita são inseparáveis, pois sou obcecado pelo mundo natural, então uma pintura de paisagem inspirará um conto e vice-versa. Também faço muitos filmes e fotografias no/do mundo natural e, novamente, os personagens e cenários dessas imagens inspiraram minhas história.
[NWC] Exercício de escrita: o método Sam Hacking
Eu definitivamente procuro estímulo excessivo para trazer a história para mim. É importante para mim encontrar a história em lugares incomuns. Sendo assim, proponho o seguinte:
1.Vá às galerias e escreva sobre uma pessoa em um retrato ou sobre a luz e a atmosfera;
2. Sente-se em um café e escreva sobre alguém de lá;
3. Ouça músicas que toquem em algo profundamente emocional dentro de você e escreva quaisquer imagens e coisas que vierem à mente;
4. Ande com o bloco na mão e escreva observações sobre o que você vê;
5. Desenhe ou pinte uma cena de um de seus livros favoritos e escreva algo dessa imagem como uma nova história;
6. Grave conversas e diálogos que você ouve na rua;
7. Vá para um lugar no mundo natural (seja um parque ou uma floresta) e simplesmente sente-se lá. Escreva qualquer pensamento/sentimento/resposta que vier a você;
8. Ver filmes! Muitos dos meus personagens vêm de atmosferas e imagens criadas em filmes que vi, como “The Straight Story”, de David Lynch. Tenho tendência a anotar o que há naquele personagem que o torna tão atraente, ou uma imagem/cenário visual que procurarei replicar em minha narrativa;
9. Basicamente, coloque-se NA cena, ir a uma festa, dançar, assistir a uma peça e recorrer a estímulos visuais e sensoriais arranca personagens, atmosfera, incidências, momentos que desencadeiam uma história. Acho isso mais inspirador do que ficar sentado em uma mesa dia após dia, em silêncio, esperando que as palavras apareçam na tela.